Folheando o Luxo!


O País Positivo entrou à conversa com Manuel Moleiro, um empresário galego que tem revolucionado o mercado de edição de livros.

Manuel Moleiro é um editor que se encontra estabelecido em Barcelona e que tem vindo a fazer réplicas exatas de manuscritos iluminados e atlas, apreciados em todo o mundo por grandes personalidades, motivo que o leva a ser uma pessoa briosa e orgulhosa do seu trabalho. Só a título de exemplo, João Paulo II tinha, na mesa-decabeceira do seu quarto, uma obra vinda das oficinas de Manuel Moleiro. Só isto mostra a importância das suas réplicas e a qualidade das mesmas.

Foi no Porto, mais concretamente no Palácio da Bolsa, que encontramos Manuel Moleiro quando se preparava para inaugurar a exposição: “Tesouros Bibliográficos (séc. X a XVI): A Arte e o Génio ao Serviço do Poder”. Esta foi uma oportunidade singular para se ver obras-primas da arte da cartografia e do livro como o Atlas Vallard (de 1547), o Breviário de Isabel a Católica (finais do século XV) ou a Bíblia de São Luís (1226-1234). A exposição estará patente até dia 1 de maio e traz ao Porto o que de melhor existe em Nova Iorque, Londres, São Petersburgo ou Paris. Apesar de não serem originais, as 30 cópias expostas no Porto são tão perfeitas e com tanto requinte que é impossível perceber a diferença. Tónica que caracteriza Manuel Moleiro em todo o seu percurso.

ATLAS UNIVERSAL DE FERNÃO VAZ DOURADO
A oficina M. Moleiro Editor tem como base a perfeição e o requinte e junta agora ao seu leque de cópias exatas o “Atlas Universal de Fernão Vaz Dourado” que, nas palavras do diretor geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB), Silvestre Lacerda, é um dos maiores tesourosdo Arquivo Nacional da Torre do Tombo e um marco na cartografia internacional.

Este Atlas, de 1571, é uma obra que deslumbra e impressiona qualquer pessoa. Apesar de pouco se saber sobre o autor do original, Fernão Vaz Dourado foi responsável pela elaboração de cinco atlas e era detentor de uma capacidade única de associar o domínio da topografia do terreno às suas competências enquanto militar.
Entrevistamos Manuel Moleiro e foi impossível não ficar contagiado pela paixão que o editor deposita em cada um dos seus livros que faz com que cada uma das cópias seja tão fiel ao original, até nos mais ínfimos detalhes.

Como surge este interesse pelos livros antigos?
Desde sempre que me interesso pelos livros antigos, pelos clássicos, pelas obras-primas da cultura. Mas foi há cerca de 25 anos que decidi dedicar-me totalmente à arte de fazer clones dos manuscritos com as pinturas mais bonitas da Idade Média e do Renascimento. Podemos ver aqui, no Palácio da Bolsa, as mais importantes obras de cada uma das mais importantes bibliotecas nacionais de todo o mundo.
 
É fácil conseguir uma autorização para clonar estas jóias bibliográficas?
É realmente muito complicado ter acesso a estas obras pois elas possuem um valor incalculável, quer a nível económico, como artístico e documental. Mas quando em 1991 fiz o clone do Beato de Fernando I – obra presente na Biblioteca Nacional de Espanha – mostrei que o meu trabalho era de tal forma perfeito que produziu um impacto tremendo junto da comunidade que detém estas obras. Ora, penso que foi este sucesso que permitiu a abertura de portas porque, caso tivesse corrido mal, nunca conseguiria ter acesso aos mais importantes livros e documentos internacionais.
Tenho quase a certeza que, hoje, nenhuma instituição me negaria o acesso às obras. Já trabalhei com as mais prestigiadas instituições do mundo e, hoje, posso mesmo dizer que são essas entidades que me procuram e não o contrário.

O que é necessário para reproduzir este tipo de obras?
Para fazer estes clones é preciso, antes de mais, ter a capacidade, financeira e técnica, porque fazer um clone não é algo barato. É necessário fazer impressão sobre pergaminho tratado e preparado previamente para que a obra fique precisamente igual ao original, mantendo a espessura, a textura e mesmo o cheiro. É um trabalho de grande perícia e muito especializado. Por exemplo, a pele tem que ser curtida como se fazia à época pois se utilizarmos os métodos atuais, os poros ficam secos e acaba por não permitir colocar o que quer que seja (tintas, ouro, prata, etc.). Temos que ir buscar métodos medievais e todos os detalhes requerem muita precisão e técnica. Aliás, temos que ser capazes, inclusive, de reproduzir defeitos, erros ou marcas características e para isso utilizamos um laser de alta precisão, idêntico ao que se utiliza nas cirurgias oftálmicas.

Indo um pouco atrás, como consegue que os seus livros tenham o mesmo cheiro dos originais? É que isso é um detalhe impressionante…
Se no códice existir uma encadernação de pele de cabra, vamos ter que encontrar uma pele de cabra igual e curti-la com métodos da Idade Medieval ou do Renascimento. As próprias costuras são feitas com um fio precisamente igual e se existir madeira, temos que utilizar o mesmo tipo de madeira. Todos os elementos e componentes do livro são replicados e assim conseguimos que mesmo o cheiro seja clonado.

Como surge o interesse pelo Atlas de Fernão Vaz Dourado?
Este Atlas é um dos mais importantes da história da cartografia e eu sou um apaixonado por cartografia, tendo já reproduzido muitas obras importantes da era dos Descobrimentos. E sejamos sinceros, desse tempo, as melhores obras de cartografia são portuguesas. Mas não clonamos apenas o Atlas de Fernão Vaz Dourado: fizemos também o Atlas Miller, encomendado por D. Manuel I de Portugal que está presente na Biblioteca Nacional de França, o Atlas Vallard que, apesar de ter sido feito em França, foi cartografado por portugueses e o Atlas de Diogo Homem que está na Rússia. Desta forma, conseguimos ajudar Portugal a recuperar obras nacionais que se encontram fora mas que são de um imenso valor para o país.

Como podemos caraterizar os livros da M. Moleiro Editor? São cópias de luxo ou de alta qualidade?
É muito mais do que isso tudo. O nosso trabalho é um clone. Colocando o clone e o original lado a lado não consegue distinguir um do outro.

E quanto poderá custar uma obra clonada?
Antes de mais, é preciso referir que cada edição é certificada, numerada e limitada e, por isso, traz um valor acrescentado. Depois, temos que perceber que nem todas as obras possuem o mesmo número de páginas, encadernações iguais ou mesmo o tamanho é sempre o mesmo. Dai que possamos dizer que uma obra da M. Moleiro Editor, S.A. poderá ter um preço que vai dos 300 euros até aos 20 mil. São obras, que dada a sua edição limitada e raridade, pode aumentar o seu preço consideravelmente em relação ao valor de compra.

 

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