M. Moleiro Editor: A arte de fazer história


M. MOLEIRO EDITOR É UMA EMPRESA DE PRESTÍGIO, ÚNICA NO MUNDO, ESPECIALIZADA EM CLONAGEM DE CÓDICES, MAPAS, OBRAS-PRIMAS DA HISTÓRIA DE ARTE, PRINCIPALMENTE ENTRE OS PRODUTIVOS SÉCULOS VIII-XVI. EM ENTREVISTA, MANUEL MOLEIRO, PRESIDENTE DE M. MOLEIRO EDITOR EXPLICA COMO É TRABALHAR COM OS LIVROS MAIS BELOS DO MUNDO.


Manuel Moleiro acompanha o presidente da Galiza numa visita às suas exposições

Como poderemos apresentar a M. Moleiro Editor?
A nossa missão é clonar os tesouros bibliográficos que, precisamente por serem tesouros, sempre gozaram de proteção suficiente para chegar aos nossos dias, superando todas as vicisitudes da história, incluindo guerras e grandes catástrofes. O ser humano sempre, penso que os animais fazem o mesmo, protege primeiro o que mais deseja e depois o que é melhor. O carinho e o valor económico são os pilares essenciais que fomentam a sua conservação.
 
Pelas mãos passam preciosidades, os maiores tesouros bibliográficos da história que se não fossem reproduzidos nunca chegariam ao conhecimento público. Considera que a vossa arte é uma forma de democratizar o conhecimento para as novas gerações?
Claro que sim. Quando clonamos um códice com pinturas, atlas ou qualquer outro documento, não reproduzimos apenas seus textos e pinturas. Não, este não é o nosso trabalho. Criamos um outro, um novo original, que dificilmente se distinguia do anterior, aquele que era mantido por imperadores e reis como, Isabel a Católica, Manuel I de Portugal, São Luís e outros monarcas. Os únicos que, durante a Idade Média e início do Renascimento, podiam pagar o custo da sua execução. Essas obras não eram exatamente baratas, o ouro e prata abundavam nas suas pinturas e a consulta limitava-se a poucos privilegiados. O rei Afonso X, o Sábio, escreveu no seu testamento que a sua Bíblia, conhecida pela Bíblia de São Luís, por ter sido oferecida pelo Luís IX de França, era uma jóia tão valiosa que somente Ele, o rei, tinha a dignidade suficiente para a consultar. Nem a rainha ou os príncipes a poderiam ler.
















Como fazem as vossas reproduções especializadas?
Produzimos e preparamos o pergaminho, papel, papiro ou qualquer outro tipo de suporte igual ao original, com o mesmo rigor e método com que foi executado. As peles de encadernação são naturalmente bronzeadas para reter os poros e podem ser gravadas em relevo, o mesmo processo que os originais. O Herald Tribune, em 7 de dezembro de 2010, num dos artigos dedicados a nós, explica nosso trabalho:
“The replica is visually indistinguishable from the original manuscript, from its vegetable parchment paper with the same texture, thickness, feel and even smell as the original, to the sewing pattern and goatskin and the paint used for the illuminations”
 
De forma geral, os livros que reproduzem são de que áreas: atlas, bíblicos, documentos régios, entre outros géneros?
Abrangemos vários campos do conhecimento e, portanto, clonamos até agora atlas, portulanos, códices de botânica, medicina e bem-estar, alimentação, astronomia e astrologia, livros bíblicos, livros de horas, história, literatura, poesia, música e sexologia, entre outros. Ao clonar esses códices, atlas e outros documentos, nós eternizamos essas obras, porque a sua conservação é garantida para sempre. Ao multiplicar o original por 987 cópias, espalhadas por todo o mundo, estamos a preservar o seu “testemunho”. Quando há apenas um original, por mais cuidadoso que seja, sempre pode ocorrer um acidente, como aconteceu com o incêndio em Notre Dame.
Nosso trabalho é essencial para a conservação de manuscritos, história e transmissão de conhecimento. Temos as maiores precações com estes “tesouros”, são bens insubstituíveis.
 
Devido ao importante passado de Portugal e Espanha nos descobrimentos, outros dos livros relevantes para reprodução são os atlas e cartografias, um cuidado acrescido quanto falamos de mapas e a sua reprodução tem de ser minuciosa. Fale-nos dessa experiencia e das “relíquias” dos livros que são testemunhos da história?
A cartografia portuguesa era a melhor do mundo na época dos Descobrimentos. Portugal era uma potência, especialmente marítima. Todos os grandes atlas da época têm seiva portuguesa, embora não tenham sido produzidos em Lisboa como o Atlas Vallard, pintado em Dieppe, França, em 1547. Este atlas foi realizado com total segurança pela ordem de Francisco I, que foi retratado nas costas de uma baleia no oceano, de frente para o Cabo da Boa Esperança, talvez como forma de resolver sua frustração pelo Tratado de Tordesilhas de 1494, entre Portugal e Espanha, o monarca nunca aceitou excluir a França na distribuição do mundo feita sob o patrocínio do papa Alexandre VI. Apesar de ter sido realizado na França, 98% de sua toponímia é em português, prova irrefutável de seu DNA.

 















Francisco I da França, cavalgando sobre uma baleia ao longo do Cabo da Boa Esperança

Alguns deles são de relevância para a investigação, como documentos únicos que testemunham a época dos descobrimentos e colonização. Nesse sentido poderemos falar de algumas obras mais importantes como os Atlas:
Fizemos a clonagem de vários Atlas, todos eles executados em momentos grandiosos das Descobertas, são os principais atlas feitos ou patrocinados por Portugal: o Atlas Miller de 1519; o Atlas Vallard de 1547; o Atlas Universal de Diogo Homem de 1565 e o Atlas Universal de Fernão Vaz Dourado, de 1571.
O Atlas Miller (Lisboa, 1519), encomendado por Manuel I, rei de Portugal a Lopo Homem, que possuía grandes cartógrafos como; Pedro Reinel e seu filho, Jorge, além do miniaturista António de Holanda, é imprescindível para entender a posição de Manuel I antes da expedição que iniciou com Fernão Magalhães e terminou com Juan Sebastián Elcano, culminando na primeira circunavegação da Terra. O Atlas Miller não é apenas o atlas mais bonito e importante da história da cartografia, mas também, é uma fonte indispensável para conhecer como viviam os nativos dos países que eram descobertos, assim como, os seus recursos económicos e populacionais.
O mapa do Brasil do Atlas Miller é o mais antigo, mais completo e bonito de toda a costa atlântica do Brasil. As suas miniaturas mostram-nos como os nativos viviam e qual era sua principal ocupação: como cortar e preparar o pau-brasil para a exportação para a Europa.
Por outro lado, no mapa do Brasil do Atlas Vallard, o miniaturista retrata as suas casas, como cozinhavam e onde dormiam. Representa os colonos europeus que negociam com os povos indígenas e como eles eram forçados, com arcabuz na mão, a trabalhar nas minas na procura do ouro e prata. Também vemos que os incendios florestais já existiam na época, embora menores, e como a população os extinguia. Assim como, grupos de povos indígenas que lutavam contra outros nativos, estas disputas esclarecem-nos, porque os europeus ocuparam essas terras com tanta facilidade.
No mapa do Brasil do Atlas Universal de Diogo Homem, vemos como eles assam um europeu antes de comê-lo, sem dúvida uma representação do fim trágico do explorador João Pedro Dias de Solis.
Por fim, no Atlas Universal de Fernão Vaz Dourado, produzido pelo primeiro grande cartógrafo português nascido numa colónia, em Goa, destaca-se a minúcia e os detalhes com os quais a costa do Brasil é desenhada e a riqueza da paleta de cores, sabiamente conjugada com a aplicação de ouro.
 
















Guerra entre indígenas, detalhe do mapa do Brasil, Atlas Vallard, 1547

Quais os novos projetos e desafios que M. Moleiro conta abraçar no futuro?
Estamos a trabalhar em projetos tais como: o Dioscórides de Cibo e Mattioli; um olhar sobre medicina e botânica, desde da arte e respeito pela natureza; o Tratado de Albumasar, sobre o tema de astrologia.

 

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